terça-feira, 30 de novembro de 2010

os homens também amam...




Romeu diz:

na verdade, na verdade

queria um tempo só pra nós dois, eu e ela

não ia falar e nem ia deixar ela falar nada

só ia dar colo!!!!!!

quietos...silenciosos

juntos

respirando

falando com a respiração e com o apertar das mãos nos corpo

olhar e depois se fosse preciso, ainda, falar....





confidencia Romeu via MSN sobre seu amor aparentemente impossível...



terça-feira, 16 de novembro de 2010

Que o teu afeto me afetou é fato...

Ariano Suassuna veio há uns dois anos a Maceió para proferir uma palestra e terminou contando histórias e mais histórias. Como exímio contador que ele é, começou com o emblemático comentário: "porque vocês sabem, né? O que é bom de contar, é ruim de passar. O que é bom de passar, é ruim de contar". Nem a minha memória seletiva que, aos 22 anos, já beira a me falhar mais e mais, conseguiu esquecer seu cabeçalho e o reproduzo vez ou outra por aí - com a devida autoria, evidentemente.

Como nunca a utilizei neste blog, então o faço agora.
Fato é que é muito mais fácil falar sobre decepções amorosas, amores platônicos, proibidos, irrealizaveis, traições, paixões não correspondidas, quedas bruscas, perdas e até morte. É mais fácil chegar aqui e metaforizar com toda profundidade e verdade do mundo sobre os casos suspensos que corroem nossa calmaria e põem à tona a nossa inquietude. O desafio é falar da alegria. Falar da paz sem parecer piegas. É a coisa mais difícil do mundo, aos acostumados e até felizes com uma vida pessoal ininterruptamente mal resolvida, levantar a bandeira branca e revelar: estou realmente satisfeita com meu relacionamento.

Já provei do veneno doce da poesia que idolatra uma vida infernal com gotículas de céu. Eu não conseguia aceitar uma vida simples, ou a felicidade embaixo do meu nariz, porque não era aquela a felicidade que eu idealizava. Eu não estava feliz e joguei tudo para o ar. Capturei Luis Fernando Verissimo e transformei a arte de defenestrar [leiam o texto dele] numa espécie de etapa permanente da minha vida. Qualquer coisa que não ia bem como eu imaginava, era essa a solução: jogar pela janela.

Joguei muita coisa que não valia a pena, mas joguei muita coisa importante também, porque acreditava ser entulho.Belo dia me joguei pela janela e aí percebi: tem algo errado por aqui. Usar a mesma fórmula para os relacionamentos diiferentes não funciona, seja ela qual for. Nem todas as vezes estou para relações intrigantes e intensas, porque o que me faz querer alguém não é apenas a instabilidade de tê-lo. As vezes é só ele e o quanto ele me faz bem, feliz, completa, que é o que importa.

Mas as perguntas martelam com força: afinal, o que vi nele? As pessoas perguntam ou me saltam olhares questionadores que dizem a todo momento: ele não faz seu tipo, aqueles 'intelectuais'. Eu dizia a mim mesma: ele realmente não faz. Ele não pensa em coisas grandiosas ou grandiosamente malucas, como se mudar para o Haiti para trabalhos inteiramente voluntários. Ele não lê o que eu leio, embora goste de ler e, de fato, não faz o perfil 'intelectual' que as pessoas tanto insistem em dizer. Por Jah, ele nem me deixa insegura, nem me envia músicas e poemas impressionantemente originais. Ele não me impressiona e não me dá calafrios. Nem comodismo ele traz, já que não sou chegada a coisas que não incomodam.

Ele diz piadas sem graça, mas ri de si mesmo e não se leva tão a sério. Quando quer se declarar, não é com música de Vander Lee ou Pato Fu - ou qualquer uma do momento, vai -, mas chega perto, faz uma careta estranha e discreta e diz que me-ama-e-está-completamente-apaixonado-por-mim. Exatamente nestas palavras, nesta ordem, com este clichê, mas com um olhar de 'fui realmente fisgado' que me faz derreter como picolé na praia. Ele nem sempre acompanha meu jeito rápido de pensar e de falar quando estou nervosa ou empolgada, mas não me deixa ficar chateada com ele por muito tempo, nem que precisemos de umas seis horas seguidas de D.R para resolvermos nossas inúmeras diferenças. Mas, calma, não sou tão chata assim... hehue

Ocorre que ele me faz feliz por um caminho que eu não tinha ido até então: pela simplicidade. E mesmo sendo simples, há nele tudo o que eu quero, todas as portas que podem fazer com que sejamos sempre novidade um para o outro. Porque há vontade - de ambas as partes- para que tudo dê certo. Ele me faz feliz pelas ideias mirabolantes que temos, e por levá-las a sério traçando até metas para chegarmos lá. Ele me faz feliz só pelo jeito de me abraçar e de ater-se a alguns detalhes que sempre nos renovam. E me faz feliz pela paciência que tem comigo e pela forma independente e, ao mesmo tempo, presente, com que estamos juntos. Ele não me faz feliz pela ideia que tenho dele, por idealizações, imaginações, mas pelo que ele me faz sentir. Não pelo intelecto, mas pela criatividade.

Ele me faz ficar feliz sem motivos, e por motivos perfeitos, intensos, leves, que me fogem ao pensamento agora...Aliás, talvez nem passem perto do pensamento. Porque, sabe como é... o que é bom de passar...

Debate ou D.R?

"Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas
eu já teria desistido da vida."

José Saramago em Ensaio Sobre a Cegueira.


Há tempos insistiam naquele rodenir. Ambos hipócritas ao ponto de criticar abertamente a sociedade e seus diversos instrumentos de repressão individual. Era preciso ir com calma, mas aquilo já durava quase um ano e nada acontecia. Só conversas, olhares, e emails: músicas aqui, poemas ali, declações - sem pudor ou piedade. Ele parecia sempre muito além. Ela parecia que jamais iria chegar lá.

Ela viu na internet: ele iria mediar um debate sobre o filme "Ensaio Sobre a Cegueira". Ela iria, claro. Estaria lá, como sempre esteve, e sempre de surpresa, sempre sem avisá-lo. Entrou na sala. Um cara, com controle remoto na mão, avisou: ele estava preso numa reunião e não teria mais certeza se poderia ir, mas faria de tudo. Ela sabia que ele faria mesmo, mas provavelmente não conseguiria e era melhor que ela perdesse as esperanças. Ele adorava conversas, debates, discussões, pesuasões, seduções... Não, 'seduções' está mal colocado e já é uma divagação da narradora que aqui vos fala. Embora ele claramente se amarrasse nisso, não faz parte do contexto.

O fato é que ela assistiu o filme inteiro frustrada. Por sorte, o filme era mesmo bom - Saramago, só pode! - e, no fim, o rapaz um tanto despreparado desligou o telão lentamente. Não sabia muito bem como começar aquilo.

De repente a porta abre e, segurando dezenas de pastas, folhas xerocadas e livros, lá vem ele. Ironia do destino: foi ele quem chegou sem avisar, sem que ela pudesse preparar novamente sua psiqué para absorver a presença dele.
Pedindo desculpas, olhando para o canto direito, ele avista ela. E, como esperado, esbugalha os olhos quando a vê, e depois vira, disfarça. Pensa que disfarça, aliás. Mas o momento de constrangimento não dura muito tempo:
- Já assisti esse filme milhares de vezes e não me canso. Cada vez que vejo de novo, parece que é a primeira. Sempre há algo novo a se observar nele - ele começa... - Não quero falar muito agora porque, antes, quero saber que impressões eles causaram em vocês.
Lá atrás, um rapaz de cabelos compridos, tiara de pano, camisa vermelha com um machado na estampa, levanta os braços.

- Acho que esse filme fala sobre como a sociedade hoje em dia está cada vez mais cega e que, em certo ponto, chegaremos numa cegueira total. Poucos poderão ver e quem puder será visto com certa anormalidade, ou como grandes guias. De um modo ou de outro, distorções que não poderíamos permitir mas, infelizmente, já permitimos.
Bingo!

Começaram então os debates. Para valer. Ela ficava calada, apenas prestando atenção. estudos antropológicos, teorias sociológicas, apontamentos literários... aquelas pessoas eram realmente inteligentes e tinham mesmo muito o que dizer. Ela anotava em seu bloquinho jornalístico tão bagunçado como sua vida. Anotava compulsivamente aquelas referências alemãs, francesas, inglesas até..

No canto esquerdo, mais uma garota completava:
- E nessa sociedade cada vez mais cega, cada vez menos as pessoas enxergam as outras, olhando sempre e só para elas mesmas.

Individualismo: outro mote para discussões sem fim.. que foram cessando e cessando, até um silêncio total indicar que era a vez dele - sim, ele mesmo - dar seus apontamentos sempre impactantes.

Mas então ela, timidamente, decidiu levantar a mão.

E ela nem tinha pensado muito. Na presença dele, ela nunca raciocinava direito porque, do contrário, perderia a coragem de dizer o que quer que seja. Se intimidava com a presença dele mas, ao mesmo tempo, não se permitia ficar initmidada por muito tempo. Levantava a mão sempre e o que saísse era lucro. Desta vez, não seria diferente:

- Sabe o que eu acho? e peço desculpas se estiver viajando -não sou da área "Ok, agora sim demonstrei que não quero ser a dona da verdade, ou que sou a pessoa mais insegura da via láctea, mas tudo bem".- Bom. As pessoas não podem enxergar nesse filme, mas também não podem ser vistas, e sabem que não serão vistas. Isto, particularmente, me remeteu à questão: se as pessoas não estivessem nos vendo, o que seríamos capazes de fazer?
O rosto dele sequer liberou uma expressão, nenhum assentimento. Quando terminou de falar, ela percebeu o quão literal foi aquilo que disse - que bem poderia ter sido de propósito, mas ela não tinha essa genialidade toda. Foi mesmo aleatório, ou inconsciente, foi seu super, alter, e id ego falando ao mesmo tempo. "Juro que foi sem querer, não queria te provocar", pensou, rezando para que ele pegasse sua prece telepaticamente.

Mas ele não pegou e, mais que isto, decidiu até dar prosseguimento:

- Pois é. As pessoas ali poderiam fazer o que quisessem que não seriam vistas pelas outras. e mesmo que as outras soubessem o que estava sendo feito, apenas pelo fato de saberem que não poderiam ser vistas já as encorajava de fazer o que quer que seja. Podemos ser o que quisermos e liberarmos o que quisermos em nós, mas ficamos tantas vezes presos pelas aparências que, em raras vezes liberamos tantas verdades, com tanta profundidade, como neste filme. Temos medo, medo de não sermos aceitos como somos. Preferimos deixar que as pessoas nos conheçam por partes, cada um com uma parte maior ou menor, mas sempre em 'partes'.

Mas buscamos subterfúrgios -ele adorava dizer essa a palavra- e a internet é um deles. Nós falamos na internet com as pessoas o que sabemos que jamais falaríamos pessoalmente e tomamos para nós a realidade virtual em detrimento da real.

Tudo nela começou a explodir, porque mesmo sem ter certeza, só vinha algo em sua mente: "Ele quer guerra".

- Olha, desculpa, mas eu discordo. Não importa se você está na internet ou pessoalmente, você sempre vai ser uma pessoa real e, nos dois casos, estamos tratando de realidades. A não ser que elas mintam porque assim querem...- rebateu, plenamente consciente do quanto estava demonstrando passionalidade naquela discussão que deveria ser teórica. - Quer dizer que, na sua opinão, as pessoas são mentirosas na internet? -
- Quero. A partir do momento em que elas mostram pela internet o que elas jamais mostrariam pessoalmente.
- E por que elas jamais mostrariam? Porque é tudo mentira?
- Em partes sim. As pessoas mentem pessoalmente ao fingirem uma normalidade que não têm. E mentem virtuamente ao fingir ações e sentimentos que não teriam coragem de agir.
- Elas mentem com sentimentos que não teriam coragem de sentir?
-Sentimento, sentem. Mas sabem que não terão coragem de agir a partir deles. A não ser que toda a sociedade ficasse cega
- Ou, a não ser, que eles fossem verdadeiros o suficiente para se enxergarem.
- Mas o que você entende por 'verdadeiros'? Defina o que é a verdade..

Ok. Foi ali, naquele dia, naquela sala, naquele debate, que ela descobriu o quão longa seria a estrada a seguir. Quão inúmeras seriam as DRs que teria sem que, sequer, houvesse um relacionamento entre eles. Ao menos não um relacionamento no sentido visível da história.

Ou pelo menos era o que achava, enquanto tentava ver o que estava por vir além daquela neblina toda que eram eles dois...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

E vou ouvindo...“more than words is all you have to do to make it real...”


Você diz: sinto sua falta. Eu respondo: sinto a sua também. Mas não fazemos, não faremos, não faríamos nada a respeito. Você diz: tenho vontade de ir à tua casa e te incomodar. E eu respondo: você não me incomoda. Mas ambos sabemos que você não vai me incomodar e nem eu a você; ambos sabemos que é justamente esta falta de incômodo mútuo que tanto incomoda.

Contradição: o que queremos é incomodar um ao outro, revirar os incômodos e transformar toda a comodidade numa confusão em que o fim, ambos sabemos, existe, e não seria nada incômodo. Mas o meio incomoda.. mais que isso: o meio é intransponível. O meio englobaria o que não há. E não há oportunidades, chances, contexto, disposição, impulso, vontade de revirar, de reorganizar. Haveria organização¿

E afinal, reconhecemos neste meio pequenas substâncias das quais não gostaríamos de deixar para trás em nome do fim.

Você sabe que eu pensaria em você ao me lembrar das coisas mais bobas e conhece o quão tola eu sou por me apegar a coisas tão pequenas que, para você, em seu auge de experiências grandiosas, febris, banais, confusas... são simples, simples demais. Ir a favor de suas vontades, porque assim somos nós, os demasiadamente humanos...”que mal há nisso¿ Não fazemos mal a ninguém, fazemos¿” Você argumenta. Ou melhor, você nada argumenta e, no entanto, quantas ideias me são inculcadas por mim mesma, por meus desejos que parecem tomar o mundo e, no entanto, são frágeis ao ponto de sequer tornarem-se reais, tangíveis. Desejos que não tangem outros desejos.

Mesmo assim me tolera. Porque quer algo em mim que pode ser do mais superficial ao mais simples, ao mais visceral. E, quem sabe, por não querer acreditar num futuro em que você acredita, acaba tentando se apegar à única coisa que não teria futuro, apenas presente: nós.

Até chegar um dia em que descobriremos nesse presente uma belíssima embalagem com fundo falso que, de tanto carregarmos para cima e para baixo sem abrí-la, virou uma bela
e mera
caixa vazia.