terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vai passar...


Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca".

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.


Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.


Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:
- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto


sábado, 4 de dezembro de 2010

Nobrezas Horríveis (Caio Fernando Abreu)



"Era nesse pé que as coisas estavam quando. E quase não havia nada a acrescentar, porque nada acontecia entre eles, a não ser, utilizando certa nor-ma-ti-vi-da-de e não necessariamente nesta ordem: a) Climas Indefiníveis; b) Sutilezas Indizíveis; c)Nobrezas Horríveis. Nomeava assim. Horríveis com maiúscula, porque mesmo não tendo que justificar-se, enfim e ao cabo: nobreza em excesso roia por dentro, isso era como a conseqüência de uma aprendizagem instalada agora dentro do quarto. Como se por baixo do longo cano de uma luva branca imaculada, por trás do rendilhado dos canutilhos houvesse garras torcidas, esguias feito torres góticas, arranhando vidraças fechadas na treva.

Mas assim era. Caminhava na rua sem tocar na rua, conseguia. Movimentava-se entre espelhos. Caminhar na rua: jogo de infinitos. O de agora remetendo ao de antes, que refletia o depois, que era algo bem próximo do agora, e assim por diante ad infinitum circular. Tudo refletia-se. Cada reflexo o devolvia a algo que não a ruapropriamente dita. Essa, por onde caminhava.


Poder-se-ia argumentar contra ele que isso não passava de mais um meio de não se comprometer demasiado. Uma daquelas Horríveis Nobrezas, porque concluir ou reconhecer uma aprendizagem não significava necessariamente passar a agir de maneira diferente."


Se


"A vida nos pareceria subitamente maravilhosa se estivéssemos ameaçados de morrer - então declararíamos nosso amor, viajaríamos à Índia, realizaríamos nossos sonhos. E caso o cataclismo não acontecesse, voltaríamos ao cotidiano, no qual a negligência supera o desejo".


quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

o que eu também não entendo...


"Verona, Itália.


Querida Julieta Capuleto,


Um rapaz tem tirado meu sono nestes últimos dias. Nós nos conhecemos no início do ano e desde então temos uma relação complicada e difícil de definir. Eu, por diversas vezes, tentei dar fim a esta confusa união, mas por algum motivo, que talvez as forças do além expliquem, eu não consigo terminar.


Recentemente, por motivos diversos, ele se mostrou outra pessoa e eu acabei me apegando. E me apegando demais. De um jeito que eu não sei descrever. Não é amor! Não é paixão. Mas é um sentimento especial que me domina e me faz perder a linha completamente.


E é ai que entra o problema. Eu que sempre tive domínio do meu querer/sentir, agora estou fazendo besteira a 3x4. Me sinto incomodada por saber que ele sabe que eu gosto dele. Sinto que com essa informação ele tem mais poder do que eu, sabe? Sei também que não se trata de uma briga de poderes, mas eu detesto saber que ele sabe dos meus sentimentos. É como se com essa informação 'valiosa' nas mãos, ele pudesse brincar comigo. É esse o meu medo. E eu estou sofrendo muito com essa situação. Eu não consigo entendê-lo e acho que ele, além de não me levar a sério, faz pouco causo disso tudo.


Eu não queria sentir isso. Queria manter as coisas do mesmo jeito: cada um na sua. Mas pra mim não é mais assim.


E agora? O que eu faço?


Com carinho,


Dita"





trecho retirado do filme 'Cartas a Julieta' e qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

terça-feira, 30 de novembro de 2010

os homens também amam...




Romeu diz:

na verdade, na verdade

queria um tempo só pra nós dois, eu e ela

não ia falar e nem ia deixar ela falar nada

só ia dar colo!!!!!!

quietos...silenciosos

juntos

respirando

falando com a respiração e com o apertar das mãos nos corpo

olhar e depois se fosse preciso, ainda, falar....





confidencia Romeu via MSN sobre seu amor aparentemente impossível...



terça-feira, 16 de novembro de 2010

Que o teu afeto me afetou é fato...

Ariano Suassuna veio há uns dois anos a Maceió para proferir uma palestra e terminou contando histórias e mais histórias. Como exímio contador que ele é, começou com o emblemático comentário: "porque vocês sabem, né? O que é bom de contar, é ruim de passar. O que é bom de passar, é ruim de contar". Nem a minha memória seletiva que, aos 22 anos, já beira a me falhar mais e mais, conseguiu esquecer seu cabeçalho e o reproduzo vez ou outra por aí - com a devida autoria, evidentemente.

Como nunca a utilizei neste blog, então o faço agora.
Fato é que é muito mais fácil falar sobre decepções amorosas, amores platônicos, proibidos, irrealizaveis, traições, paixões não correspondidas, quedas bruscas, perdas e até morte. É mais fácil chegar aqui e metaforizar com toda profundidade e verdade do mundo sobre os casos suspensos que corroem nossa calmaria e põem à tona a nossa inquietude. O desafio é falar da alegria. Falar da paz sem parecer piegas. É a coisa mais difícil do mundo, aos acostumados e até felizes com uma vida pessoal ininterruptamente mal resolvida, levantar a bandeira branca e revelar: estou realmente satisfeita com meu relacionamento.

Já provei do veneno doce da poesia que idolatra uma vida infernal com gotículas de céu. Eu não conseguia aceitar uma vida simples, ou a felicidade embaixo do meu nariz, porque não era aquela a felicidade que eu idealizava. Eu não estava feliz e joguei tudo para o ar. Capturei Luis Fernando Verissimo e transformei a arte de defenestrar [leiam o texto dele] numa espécie de etapa permanente da minha vida. Qualquer coisa que não ia bem como eu imaginava, era essa a solução: jogar pela janela.

Joguei muita coisa que não valia a pena, mas joguei muita coisa importante também, porque acreditava ser entulho.Belo dia me joguei pela janela e aí percebi: tem algo errado por aqui. Usar a mesma fórmula para os relacionamentos diiferentes não funciona, seja ela qual for. Nem todas as vezes estou para relações intrigantes e intensas, porque o que me faz querer alguém não é apenas a instabilidade de tê-lo. As vezes é só ele e o quanto ele me faz bem, feliz, completa, que é o que importa.

Mas as perguntas martelam com força: afinal, o que vi nele? As pessoas perguntam ou me saltam olhares questionadores que dizem a todo momento: ele não faz seu tipo, aqueles 'intelectuais'. Eu dizia a mim mesma: ele realmente não faz. Ele não pensa em coisas grandiosas ou grandiosamente malucas, como se mudar para o Haiti para trabalhos inteiramente voluntários. Ele não lê o que eu leio, embora goste de ler e, de fato, não faz o perfil 'intelectual' que as pessoas tanto insistem em dizer. Por Jah, ele nem me deixa insegura, nem me envia músicas e poemas impressionantemente originais. Ele não me impressiona e não me dá calafrios. Nem comodismo ele traz, já que não sou chegada a coisas que não incomodam.

Ele diz piadas sem graça, mas ri de si mesmo e não se leva tão a sério. Quando quer se declarar, não é com música de Vander Lee ou Pato Fu - ou qualquer uma do momento, vai -, mas chega perto, faz uma careta estranha e discreta e diz que me-ama-e-está-completamente-apaixonado-por-mim. Exatamente nestas palavras, nesta ordem, com este clichê, mas com um olhar de 'fui realmente fisgado' que me faz derreter como picolé na praia. Ele nem sempre acompanha meu jeito rápido de pensar e de falar quando estou nervosa ou empolgada, mas não me deixa ficar chateada com ele por muito tempo, nem que precisemos de umas seis horas seguidas de D.R para resolvermos nossas inúmeras diferenças. Mas, calma, não sou tão chata assim... hehue

Ocorre que ele me faz feliz por um caminho que eu não tinha ido até então: pela simplicidade. E mesmo sendo simples, há nele tudo o que eu quero, todas as portas que podem fazer com que sejamos sempre novidade um para o outro. Porque há vontade - de ambas as partes- para que tudo dê certo. Ele me faz feliz pelas ideias mirabolantes que temos, e por levá-las a sério traçando até metas para chegarmos lá. Ele me faz feliz só pelo jeito de me abraçar e de ater-se a alguns detalhes que sempre nos renovam. E me faz feliz pela paciência que tem comigo e pela forma independente e, ao mesmo tempo, presente, com que estamos juntos. Ele não me faz feliz pela ideia que tenho dele, por idealizações, imaginações, mas pelo que ele me faz sentir. Não pelo intelecto, mas pela criatividade.

Ele me faz ficar feliz sem motivos, e por motivos perfeitos, intensos, leves, que me fogem ao pensamento agora...Aliás, talvez nem passem perto do pensamento. Porque, sabe como é... o que é bom de passar...

Debate ou D.R?

"Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas
eu já teria desistido da vida."

José Saramago em Ensaio Sobre a Cegueira.


Há tempos insistiam naquele rodenir. Ambos hipócritas ao ponto de criticar abertamente a sociedade e seus diversos instrumentos de repressão individual. Era preciso ir com calma, mas aquilo já durava quase um ano e nada acontecia. Só conversas, olhares, e emails: músicas aqui, poemas ali, declações - sem pudor ou piedade. Ele parecia sempre muito além. Ela parecia que jamais iria chegar lá.

Ela viu na internet: ele iria mediar um debate sobre o filme "Ensaio Sobre a Cegueira". Ela iria, claro. Estaria lá, como sempre esteve, e sempre de surpresa, sempre sem avisá-lo. Entrou na sala. Um cara, com controle remoto na mão, avisou: ele estava preso numa reunião e não teria mais certeza se poderia ir, mas faria de tudo. Ela sabia que ele faria mesmo, mas provavelmente não conseguiria e era melhor que ela perdesse as esperanças. Ele adorava conversas, debates, discussões, pesuasões, seduções... Não, 'seduções' está mal colocado e já é uma divagação da narradora que aqui vos fala. Embora ele claramente se amarrasse nisso, não faz parte do contexto.

O fato é que ela assistiu o filme inteiro frustrada. Por sorte, o filme era mesmo bom - Saramago, só pode! - e, no fim, o rapaz um tanto despreparado desligou o telão lentamente. Não sabia muito bem como começar aquilo.

De repente a porta abre e, segurando dezenas de pastas, folhas xerocadas e livros, lá vem ele. Ironia do destino: foi ele quem chegou sem avisar, sem que ela pudesse preparar novamente sua psiqué para absorver a presença dele.
Pedindo desculpas, olhando para o canto direito, ele avista ela. E, como esperado, esbugalha os olhos quando a vê, e depois vira, disfarça. Pensa que disfarça, aliás. Mas o momento de constrangimento não dura muito tempo:
- Já assisti esse filme milhares de vezes e não me canso. Cada vez que vejo de novo, parece que é a primeira. Sempre há algo novo a se observar nele - ele começa... - Não quero falar muito agora porque, antes, quero saber que impressões eles causaram em vocês.
Lá atrás, um rapaz de cabelos compridos, tiara de pano, camisa vermelha com um machado na estampa, levanta os braços.

- Acho que esse filme fala sobre como a sociedade hoje em dia está cada vez mais cega e que, em certo ponto, chegaremos numa cegueira total. Poucos poderão ver e quem puder será visto com certa anormalidade, ou como grandes guias. De um modo ou de outro, distorções que não poderíamos permitir mas, infelizmente, já permitimos.
Bingo!

Começaram então os debates. Para valer. Ela ficava calada, apenas prestando atenção. estudos antropológicos, teorias sociológicas, apontamentos literários... aquelas pessoas eram realmente inteligentes e tinham mesmo muito o que dizer. Ela anotava em seu bloquinho jornalístico tão bagunçado como sua vida. Anotava compulsivamente aquelas referências alemãs, francesas, inglesas até..

No canto esquerdo, mais uma garota completava:
- E nessa sociedade cada vez mais cega, cada vez menos as pessoas enxergam as outras, olhando sempre e só para elas mesmas.

Individualismo: outro mote para discussões sem fim.. que foram cessando e cessando, até um silêncio total indicar que era a vez dele - sim, ele mesmo - dar seus apontamentos sempre impactantes.

Mas então ela, timidamente, decidiu levantar a mão.

E ela nem tinha pensado muito. Na presença dele, ela nunca raciocinava direito porque, do contrário, perderia a coragem de dizer o que quer que seja. Se intimidava com a presença dele mas, ao mesmo tempo, não se permitia ficar initmidada por muito tempo. Levantava a mão sempre e o que saísse era lucro. Desta vez, não seria diferente:

- Sabe o que eu acho? e peço desculpas se estiver viajando -não sou da área "Ok, agora sim demonstrei que não quero ser a dona da verdade, ou que sou a pessoa mais insegura da via láctea, mas tudo bem".- Bom. As pessoas não podem enxergar nesse filme, mas também não podem ser vistas, e sabem que não serão vistas. Isto, particularmente, me remeteu à questão: se as pessoas não estivessem nos vendo, o que seríamos capazes de fazer?
O rosto dele sequer liberou uma expressão, nenhum assentimento. Quando terminou de falar, ela percebeu o quão literal foi aquilo que disse - que bem poderia ter sido de propósito, mas ela não tinha essa genialidade toda. Foi mesmo aleatório, ou inconsciente, foi seu super, alter, e id ego falando ao mesmo tempo. "Juro que foi sem querer, não queria te provocar", pensou, rezando para que ele pegasse sua prece telepaticamente.

Mas ele não pegou e, mais que isto, decidiu até dar prosseguimento:

- Pois é. As pessoas ali poderiam fazer o que quisessem que não seriam vistas pelas outras. e mesmo que as outras soubessem o que estava sendo feito, apenas pelo fato de saberem que não poderiam ser vistas já as encorajava de fazer o que quer que seja. Podemos ser o que quisermos e liberarmos o que quisermos em nós, mas ficamos tantas vezes presos pelas aparências que, em raras vezes liberamos tantas verdades, com tanta profundidade, como neste filme. Temos medo, medo de não sermos aceitos como somos. Preferimos deixar que as pessoas nos conheçam por partes, cada um com uma parte maior ou menor, mas sempre em 'partes'.

Mas buscamos subterfúrgios -ele adorava dizer essa a palavra- e a internet é um deles. Nós falamos na internet com as pessoas o que sabemos que jamais falaríamos pessoalmente e tomamos para nós a realidade virtual em detrimento da real.

Tudo nela começou a explodir, porque mesmo sem ter certeza, só vinha algo em sua mente: "Ele quer guerra".

- Olha, desculpa, mas eu discordo. Não importa se você está na internet ou pessoalmente, você sempre vai ser uma pessoa real e, nos dois casos, estamos tratando de realidades. A não ser que elas mintam porque assim querem...- rebateu, plenamente consciente do quanto estava demonstrando passionalidade naquela discussão que deveria ser teórica. - Quer dizer que, na sua opinão, as pessoas são mentirosas na internet? -
- Quero. A partir do momento em que elas mostram pela internet o que elas jamais mostrariam pessoalmente.
- E por que elas jamais mostrariam? Porque é tudo mentira?
- Em partes sim. As pessoas mentem pessoalmente ao fingirem uma normalidade que não têm. E mentem virtuamente ao fingir ações e sentimentos que não teriam coragem de agir.
- Elas mentem com sentimentos que não teriam coragem de sentir?
-Sentimento, sentem. Mas sabem que não terão coragem de agir a partir deles. A não ser que toda a sociedade ficasse cega
- Ou, a não ser, que eles fossem verdadeiros o suficiente para se enxergarem.
- Mas o que você entende por 'verdadeiros'? Defina o que é a verdade..

Ok. Foi ali, naquele dia, naquela sala, naquele debate, que ela descobriu o quão longa seria a estrada a seguir. Quão inúmeras seriam as DRs que teria sem que, sequer, houvesse um relacionamento entre eles. Ao menos não um relacionamento no sentido visível da história.

Ou pelo menos era o que achava, enquanto tentava ver o que estava por vir além daquela neblina toda que eram eles dois...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

E vou ouvindo...“more than words is all you have to do to make it real...”


Você diz: sinto sua falta. Eu respondo: sinto a sua também. Mas não fazemos, não faremos, não faríamos nada a respeito. Você diz: tenho vontade de ir à tua casa e te incomodar. E eu respondo: você não me incomoda. Mas ambos sabemos que você não vai me incomodar e nem eu a você; ambos sabemos que é justamente esta falta de incômodo mútuo que tanto incomoda.

Contradição: o que queremos é incomodar um ao outro, revirar os incômodos e transformar toda a comodidade numa confusão em que o fim, ambos sabemos, existe, e não seria nada incômodo. Mas o meio incomoda.. mais que isso: o meio é intransponível. O meio englobaria o que não há. E não há oportunidades, chances, contexto, disposição, impulso, vontade de revirar, de reorganizar. Haveria organização¿

E afinal, reconhecemos neste meio pequenas substâncias das quais não gostaríamos de deixar para trás em nome do fim.

Você sabe que eu pensaria em você ao me lembrar das coisas mais bobas e conhece o quão tola eu sou por me apegar a coisas tão pequenas que, para você, em seu auge de experiências grandiosas, febris, banais, confusas... são simples, simples demais. Ir a favor de suas vontades, porque assim somos nós, os demasiadamente humanos...”que mal há nisso¿ Não fazemos mal a ninguém, fazemos¿” Você argumenta. Ou melhor, você nada argumenta e, no entanto, quantas ideias me são inculcadas por mim mesma, por meus desejos que parecem tomar o mundo e, no entanto, são frágeis ao ponto de sequer tornarem-se reais, tangíveis. Desejos que não tangem outros desejos.

Mesmo assim me tolera. Porque quer algo em mim que pode ser do mais superficial ao mais simples, ao mais visceral. E, quem sabe, por não querer acreditar num futuro em que você acredita, acaba tentando se apegar à única coisa que não teria futuro, apenas presente: nós.

Até chegar um dia em que descobriremos nesse presente uma belíssima embalagem com fundo falso que, de tanto carregarmos para cima e para baixo sem abrí-la, virou uma bela
e mera
caixa vazia.









sexta-feira, 15 de outubro de 2010

que saudade sem fim...


Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

Pablo Neruda


Esse post é só uma homenagem a dois amigos infinitamente especiais na minha vida:
ele é um cara incrivelmente sensacional que de tão apaixonado já tá ficando bobo... hehe
ela é uma menina maravilhosa, doce e meiga e que precisa entender o sentido literal de 'a sangue e fogo'

aos dois, 'VIVAM! VIVAM! VIVAM! SEM ARREPENDIMENTOS... INTENSAMENTE CADA DIA COMO SE REALMENTE FOSSE O ÚLTIMO, POIS NELE TODA LOUCURA É PERMITIDA!!!'

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

outra vez...



versão original:
'Você foi!
O melhor dos meus erros
A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade
Faz lembrar
De tudo outra vez...'
versão adaptada:
'Você é!
O meu melhor acerto
E a mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade
Faz querer
Tudo outra vez...'

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Saudade do desconhecido...


Durante dias corri atrás dele. Passei uma semana com ele em meus pensamentos. Meu maior desejo naquele período era conseguir falar com ele. Liguei incessantemente, ele se recusava a me atender. Mas eu não desisti. Até que não houve outro jeito... e ele falou comigo.

Eu sabia quem ele era, o que fazia, onde morava e trabalhava. E ele sequer sabia o meu nome. Ele era o entrevistado perfeito. A cereja do meu bolo. Um personagem ideal para aquele tipo de matéria que dar tesão em fazer.


Ele é uma estrela, um grande profissional. Eu tremia ao telefone. Era uma mistura inexplicável de alegria e medo. Ainda meio receosa com os comentários ouvidos sobre ele, comecei a conversa cheia de dedos e sem rumo...


Conversa vai, conversa vem, conversa vai, conversa vem. Quinze minutos se passaram e a essa altura, eu já tinha feito todas as perguntas, dado opiniões sobre o trabalho dele, conversado banalidades... alguma coisa em mim não me deixava desligar o telefone. Ao final, peguei o email dele e desliguei.


Ainda desconsertada, escrevi a matéria. Linda, linda, linda. É uma das que mais tenho orgulho E olha nem ficou essas coisas todas!!!.. É muito mais pelo prazer que tive em fazer.


Logo em seguida, encaminhei o link pra ele... queria saber a opinião dele (como se ele tivesse preocupado em ler minha matéria...!). Mas, para minha surpresa, alguns muitos dias depois, ele me respondeu o email dizendo que tinha gostando muito. Vai saber, né?


O que eu sei mesmo é que eu o adicionei no MSN e quase um mês depois da entrevista e a uma pequena troca de emails, começamos a conversar via mensagens instantâneas. E como se já nos conhecêssemos há anos, nosso papo sempre dura horas e horas!


Mas, todo esse resumão da história tem sua razão de ser contada...

É que inexplicavelmente, eu fico sentindo falta dele.

Sempre alguém na rua me faz lembrá-lo...

E pior, já pedi uma noite de sono pensando nele.



Que medo!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Não é fácil...


Por esses dias aconteceu uma coisa imprevisível, inesperada, e todos os 'in's que remetam a surpreendente. É. Eu ouvi uma declaração de amor!

O cenário era perfeito e propício para a situação... era madrugada, em um praia linda e apenas nós dois sob o olhar vigilante de uma lua maravilhosamente cheia. Apenas ela para testemunhar o que eu estava prestes a ouvir.

A cena, que caberia muito bem em qualquer novela das oito, começou com um abraço. Um puro abraço. E o beijo?! Não, não teve - para lamento de muitos.

Ficamos abraçados por minutos, mas minha incompreensão sobre o que acontecia ao meu redor era tamanha que aquele pouquíssimo tempo me pareceu horas...

Eis que ele finalmente começa a falar... e relembrar o passado. A história é mais ou menos assim: nós nos conhecemos, nos envolvemos, ficamos um tempo e sem motivo algum nos afastamos.

O motivo do afastamento? Descobri naquele dia, ele havia se apaixonado! E por mais de seis meses a situação se arrastou. Nós nos víamos com frequência. Mas nunca, nunca ficamos durante esse período. E ele sufocou. Sentiu uma necessidade gritante de me ver, conversar comigo.

Foi atrás. Deixou de viajar só para falar comigo. Queria finalmente me dizer com lágrimas no olhos...

"EU TE AMO, PORRA!"

Me disse assim, sem meias palavras, curto e grosso.

E eu? Não sabia o que dizer. Pensei 'caraaaaaaaaca! E agora?'. Na tal novela das oito, essa seria a hora que eu diria "eu também te amo!" e depois, um lindo beijo! Mas eu não podia dizer isso. Seria falso e mentiroso. Fiquei calada.

E ele continuou a dizer, tentando segurar as lágrimas, que eu trazia a ele um sentimento gostoso e que a tempos não sentia.. E repetiu por várias vezes, com a voz embargada, o quanto era maravilhoso sentir aquilo. E eu?! Calada.

Por fim, e ainda na praia, disse a verdade, que apesar de gostar muito dele, meu sentimento não era recíproco...

Saindo da praia em direção ao carro ele ainda fez questão de gritar "EU ESTOU APAIXONADO POR VC!"...

Me deixou em casa e eu não consegui dormir aquela noite. Pensei, pensei, pensei...

O amor é mesmo complicado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(Acho que por isso o meu chefe me disse hoje 'eu me arrependo do dia em que me apaixonei...'. )

Caramba! Eu queria ter ouvido aquilo tudo do carinha que estou afim.. Tá bom, tá bom.. tudo é demais. Ouvir um 'eu vou ficar só com vc...' já me bastaria nesse momento!!! kkkkkkkkkkkkkkk


Mas, nem isso...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Fim.



Eu estava decidida. Há dois meses a ideia de acabar aquele pseudo relacionamento martelava a minha cabeça.


Fui atrás dele. Chamei pra conversar. Ele concordou, mas por duas vezes fugiu sob alegação de que 'não era a hora', 'não estava bem e não queria me apresentar seu lado monstro'. Tudo bem... pensei até em acabar de uma forma simples, via email, mas ele me convidou para um almoço. Mesmo desconfiada de que esse encontro não se realizaria, aceitei, claro!


Na hora marca, para minha surpresa, ele estava na porta da empresa a minha espera. Eu estava tão sei jeito que mal o cumprimentei, disse apenas um singelo 'oi' e fomos durante todo o caminho, praticamente calados, apesar da tentativa de puxar assunto da parte dele.


Ao chegar no restaurante, escolhido por ele, conversamos diversas bobagens. Sabe aquele tipo de conversa que vc sempre quis ter e nunca teve? Pois bem, eu estava ali papeando e conhecendo, em quatro horas de almoço, coisas daquele homem que em seis meses de uma falsa relação eu nunca descobri. Fiquei surpresa.


E quando o assunto que de fato nos levou aquele almoço foi à tona, ele me pediu desculpas 'por todo sofrimento causado'. Mas para mim, era o fim. Então, resolvi atender o que seria seu 'último pedido': passar a tarde ali com ele. (1º erro!)


Conversa vai, conversa vem, ficamos. (2º erro!) Mas minha decisão continuava a mesmo: acabou.


Fui para casa e fiquei com tudo que tinha acontecido na cabeça. Agoniada, inquieta.


Não resisti, saimos de novo. Recaída. (3º erro!)


Agora, as coisas me intrigavam ainda mais.. estava curiosa para saber o porquê de tantas mudanças. Me deixei envolver.


Diante disso, até criei uma teoria: ele, geminiano dissimulado, queria me conquistar, me iludir e me ter na mão.


Verdade ou não, fato é que me envolvi mesmo. E agora, sentia uma necessidade estranha de dizer tudo que me agoniava.


E aquelas recaídas, que antes eram erros, agora foi um acerto. Nos encontramos, acho que pela última vez, só para que eu dissesse o que realmente sentia. Não me intimidei. Disse tudo. (leia-se como tudo: estou envolvida, apaixonada, interessada em uma relação de verdade). Falei!


Depois disso tudo, mesmo sabendo que foi uma despedida, me sinto leve. Com a sensação de dever cumprido. Sem arrependimentos.


O que levo de tudo isso? A sensação de que por mais definitiva que seja uma decisão, quando envolve duas pessoas, vc pode se surpreender.


Fim. Porque é hora de começar tudo novo...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O que eu não quero...

“Ele é uma espécime tão comum de homem que me impressiona você ter se interessado por ele”. Acabo de ouvir essa frase de uma amiga da redação. E de que homem ela está falando? Daqueles que se acumulam a quilo: previsíveis, fáceis, mentirosos e que te chamam de ‘amor’ – nunca gostei desse tipo.

Eu sempre gostei do impossível. De ir à luta, de conquistar... coisa meio de ‘homem’ até. E de repente, não mais que de repente, me aparece esse cidadão. Eu devia estar distraída. Nossa que desculpa mais esfarrapada. Mas tem um fundinho de verdade nela.

É que não queria me envolver, me comprometer, me doar. E ele era tudo isso. Um alguém para sair de vez em quando, curtir e só. Mas as coisas tomaram outros rumos. Calma! Eu não cheguei a gostei dele. Ele não me deu espaço para isso – vivia de celular desligado, off nos finais de semana, resumindo: só existia em horário comercial.

Mas do nada, quando me abusei e decidi que não queria mais vê-lo nem pintado de azul, ele reaparece todo bonzinho... me ligando infinitas vezes, inclusive nos fins de semana, me chamando para sair e ignorando todos os meus ‘foras’. Estranho isso. Mas eu continuei firme com a minha decisão: o que a gente nunca teve estava acabado.

Mas é dono de um cara de pau surpreendente. Nos encontramos por acaso em um lugar público e com quem ele estava? Uma namorada, que ele havia me garantido ter acabado. E no dia seguinte, me liga como se nada tivesse acontecido, chamando para sair. Talvez não precise dizer, mas eu, além de super grossa no telefone, recusei.

E agora? Estou aqui, sentada, tentando trabalhar, mas contando os minutos para dizer cara a cara tudo que esse palhaço precisa ouvir...

E depois? Vou procurar as espécimes raras que me encantam e atraem...



p.s – só para acrescentar... e no meio de tudo isso, ele ainda usou uma amiga em comum para fazer o lado dele. Sempre fingindo de bom moço e eu como a vilã, a bruxa, ‘a menina má que não tava nem ai pra ele...’.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

A verídica história de Juan Pablo e sua longa múltipla love story


Como diria Ariano Suassuna, o que é bom de passar é ruim de contar e o que é ruim de passar é bom de contar. Pois bem. Esta história que agora vos relato aconteceu com uma pessoa muitíssimo próxima que eu vou chamar, devido à proximidade dos fatos com aquelas novelas mexicanas dos anos 90, de Juan Pablo. Com o perdão da parcialidade em sua versão dos fatos – e da minha licença literária totalmente legítima – asseguro que esta é a mais destilada verdade a que pude chegar.

Pois então Juan Pablo conheceu Joaquina. Joaquina ficou perdidamente apaixonada por Juan Pablo. Juan Pablo a via como a menina com quem iria viver até o infinito (ou alguma coisa assim piegas-que-a-gente-sempre-quer-acreditar-que-existe.. e existe!). E assim eles tiveram horas, dias, ok, meses felizes e alegres e encantadores.

Mas nem tudo são flores. Ele descobriu com amargor e pequenas parcelas de dores.

Ocorre que Joaquina tinha um dragão em sua casa, que crescia cada vez mais sob a mesa de renda em que Juan Pablo mostrava todo o seu chá de cueca – aquele que servia justamente para segurá-la (mas a narradora que aqui vos fala não entrará nestes detalhes sórdidos). O dragão era a insegurança.. que soltava seu fogo gelado com cada vez maior força sobre o romance mexicano que Juan Pablo, com todos os seus dois metros e meio de altura, não conseguiu conter. Sim. O que parecia uma super história tipo Maria do Bairro terminou em algo como Alien x Predador. Quem era o Alien? Quem era o Predador? Até hoje não se sabe...


O que se sabe é que Juan Pablo reuniu todas as suas forças e disse Basta. “Yo solo quiero saber de lo que puede dar cierto”, cantarolava ele, com lágrimas nos olhos e uma garrafa de aguardente. Até que o Crepúsculo se foi e finalmente chegou... o Amanhecer...


Amanheceu com Francesca. Tudo era lindo e por do sol com Francesca. Mas Francesca morava em um outro país. A distância, os ventos fortes, a diferença de fuso-horário fez com que Juan Pablo deixasse Francesca naturalmente. Com muito pesar pelo fim, aguardente era o que lhe restava.

E porque Juan Pablo faz jus ao nome e não para quieto, belo dia conheceu Emiliana. “Emililililiana sim será a mãe dos meus 14 filhos”, pensava, esperançoso, imaginando-se no último capítulo da novela das 8. Ele, José Meyer. Ela, Vera Fisher. Tudo certo, perfeito, perfect, Love story total.

But Nooooot.

Tudo se revolucionou e o controle remoto mostrou o quão remoto era o controle de J.P sobre sua trama de vida. O que era romance virou uma super mistura de Atração Fatal (sem a parte da traição - até onde eu, a narradora, saiba).



Acontece que Joaquina-não-aceitou-o-fim-do-romance-e-queria-Juan-Pablo-a-qualquer-custo-porque-não-parava-de-pensar-em-seu-chá-de-cueca. Colocou lacinho cor de rosa e sapatinho. Fez reza braba, simpatia, colocou a cueca no terreiro, mas nada adiantou. Nada de nádaras. Só lhe restava uma coisa: planos-malignos!

Joaquina deixou seu cabelo crescer, vestiu-se de Mary Poppins e lembrou-se de sua máxima a la Paola Bracho. “Para conseguir o MEU homem, viro até Paulina Martins”.

Após assistir muito ‘Amigas e Rivais’ e fazer anotações em seu caderninho preto, Joaquina resolveu colocar seu plano em prática (sempre ao lado do seu sempre fiel amigo Bethoven). Aproximou-se sorrateiramente da ingênua e vulneravel Emiliana e, a la Hitchcook (lembra daquele som) apunhalou o romance de JP pelas costas. Len-ta e do-lo-ro-sa-men-te.

Quase À Beira de Um Ataque de Nervos, andando de um lado para o outro, ininterruptamente, Juan Pablo pensava: ‘E agora?’ pensou: ‘o que faço com Minha Super Ex-Namorada’?

Joaquina já não tinha mais limites.

Mas Juan Pablo que é Juan Pablo não desiste assim tão fácil. Inspirado em Joseph Climber, conheceu Espiridiana, cuja morte do romance ocorreu por causas naturais. Na realidade, Juan Pablo era tão atirador que a narradora aqui acabou perdendo as contas e já não sabe quantas apareceram e de quem está falando exatamente, e até gostaria de dar uma relida para recapitular, mas como já já começa o jogo (Brasil e Holanda na disputa para as semifinais da Copa do Mundo), prefere atropelar um pouquinho a história e chegar ao Ponto X.

O romance com Espiridiana não morreu. Só sofreu uma catalepsia. Enquanto isso, J.P conheceu Sandra Rosa Madalena e, com seu sangue fervendo pela cigana, terminou não percebendo que a cataléptica Espiridiana unir-se-ia à Joaquina em pessoa para, juntas, dominarem o mundo. Não não, o coração de JP.

Nesse ínterim, Joaquina entrou em Matrix, que havia sido dominada por um Shinigami e tinha como seu fiel escudeiro: Eu-Robô. Em Matrix, Eu-Robô ensinou Joaquina a acessar um sistema ultra-secreto de onde poderia efetuar todos os planos mirabolantes junto à sua nova parceira 007 Espiridiana: chamava-se ORKUT. Sandra Rosa Madalena, a pobre e doce Sandra Rosa, que se cuidasse...

E assim surgiu a comunidade “As ex-namoradas de Juan Pablo”. Juan Pablo descobriu e, junto à sua amiga Inteligência Artificial, fechou a Matrix.. cancelou seu Orkut. E deixou Joaquina, Espiridiana, Shinigami e Eu-Robô do outro lado do espelho. Só resolveu pegar o Bethoven porque achou ele muito fofinho e legal.

E assim ele decidiu ser feliz com Sandra Rosa Madalena, sem saber que o fofinho Bethoven, na realidade, era um espião do mal vindo do Planeta 51 a serviço de Sidney Magal. Bethoven terminou engolindo, junto às sandálias, o romance cheio de agitações e sangue em fervor com Sandra Rosa. E Juan Pablo sem inimigos, por fim, mas sozinho...

Sozinho uma pinóia. Juan Pablo que é Juan Pablo não desiste. E Juan Pablo faz jus ao nome e, insaciável, decidiu que não iria perdoar nem mesmo a narradora que aqui vos fala, e já começou a mostrar suas garrinhas. Ou melhor, suas cuequinhas. Mas como a narradora é uma pessoa séria-sábia-inteligente-ligaaada-e-que-já-conhece-toda-a-saga-JuanPablesca, o JP descobriu que vai ter que sair de todo esse enredo enrolado e entrar numa história, digamos, um tanto mais leve-legal-alegre-e-sem-tretas, mas para isso ele vai ter que escrever uma nova história também...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Deixa o vento soprar, let it be.."


Então nós iríamos nos ver. A desculpa: ele iria me pagar uma pizza ganha em uma aposta na época em que ainda podíamos dizer que estávamos ‘juntos’. Ou quase.

Mas não estávamos mais. Aliás, eu já estava em um quase-relacionamento com uma outra pessoa. Ele eu não sabia. Não sabia como seria a primeira segunda impressão, nem o primeiro segundo olhar, ou o primeiro segundo cumprimento, ou a primeira segunda conversa, depois de tudo. A gente nunca sabe o que sobra depois do fim, mesmo que já estejamos nele. Ou não?

O fato é que eu estava curiosa. Queria saber o que iria sentir, como iria reagir, como ele estava, de trabalho-planos-família-amor. Amor, também. Já havia se passado meses desde a última vez em que nos falamos e provavelmente – eu sentia, sabia, pressentia, previa - ele já havia provado outros gostos... mas até onde teria ido e até onde teria sentido e até onde teria me superado? Como seria vê-lo consciente de que não sou nem nunca fui dele, ou observá-lo como alguém que não é nem nunca foi meu?

Foi estranho. No mínimo.

Mas foi irreparavelmente familiar. Demos um sorriso e eu soltei uma piadinha. Daquelas que costumo soltar e que eu sabia que ele iria rir. Se não por achar graça, mas pelo menos para respirar direito e sentir alívio: ele notou e baixou a guarda.

Próximo passo: amenidades. Ele me contou tudo: está quase quase abrindo a clínica, resolveu o problema da grana, mas não encontra o cara para fazer o gesso, reclamaram porque ele ainda atendia na Ufal, briga de professores, mas vai continuar atendendo a talcliente na tal nova clínica. Deve abrir em agosto. Não de deus. Agosto mesmo. E ele mal pode esperar, mas está tudo tranqüilo, tudo na paz. Ele está fazendo musculação. Quer aprender dança de salão. Viu um jeito novo de ver a vida. Está feliz.

Passo seguinte: eu, claro, começo a cutucar a onça com vara curta (leia-se, com um palitinho de dentes). E amores? Vamos lá, sem melindres, conta tudo. Ele contou. Ficou com uma menina. Uma, duas, três vezes. Cansou. Viu que era melhor ficar sozinho do-que-ter-relacionamentos-superficiais. Entendi (eu disse..). ele não me perguntou ‘e você’. E completou: ‘não vou perguntar, não quero saber’. Ok. Tudo bem. Não digo. Fiquei sem palavras.

Ele pediu para tocar meu cabelo. Eu respondi ‘melhor-não’. Chamou para irmos à praia, com aquela voz que eu conhecia muito bem. respondi Melhor-Não. E na despedida..me chamou para um cinema e eu disse... vamos, sim, marcar um dia desses. Mas pensei ‘melhor-não’. Melhor não enganá-lo. Eu disse então ‘melhor-não’ e perguntei (pedindo e com medo) se poderia ser sincera. Ele disse ‘melhor não’ ou pelo menos não totalmente. me-diga-quase-tudo-mas-não-me-diga-se-estiver-com-alguém. “Melhor não dizer nada, então”, respondi. “Não dá para meios termos, você sabe. Ou te conto tudo ou não te conto nada’. Ele ficou no melhor-sim-melhor-não e no fim: “tudo bem, me diga”.

Eu estou com alguém sim. E entrei naqueles olhos de caramelo dele. Os olhos estavam duros, presos nos meus, sem aparência surpresa, sem qualquer indício de fraqueza. Ele respondeu: isso já estava previamente configurado. Eu não entendi. Como ele pode usar a palavra ‘configuração’ depois de eu ter lhe dito. Estou com alguém.

Prendi a respiração e soltei de uma vez, junto com o ar:

“Seja lá o que deu e o que não deu certo entre a gente... ficou. Pode ter certeza. Mas a gente se afastou, então eu fui em frente, eu não podia me interromper, sabe? E agora, claro, ver você mexeu comigo, mas não posso prometer nada agora. Você não merece banho-maria. Você não merece que eu esteja nem remotamente dividida entre você e alguém.”, consegui, finalmente, dizer.

Ele franziu as sobrancelhas e aqueles olhos de caramelo estavam duros, perfurando como aquele doce pontudo que vendem de porta em porta enquanto tocam aqueles sininhos. Ele me respondeu:“Eu não aceitaria uma situação paralela. E tenho certeza como você não faria isso comigo, nem com ninguém”.

Concordei com a cabeça. mas por dentro eu pensava ‘melhor ele não saber o quanto eu mudei’. “Eu não faria isso com você nunca”, reforcei, querendo, no íntimo, apenas retificar. Então olhei os olhos de caramelo e, ao invés dos sinos, ouvi aquela voz familiar me responder: “a historia da gente não terminou, mas eu não estou com pressa”.

Abriu a porta e saiu. “Como posso estar tão calma?”, pensei e fiquei segurando o volante do carro por alguns segundos, ainda. O sinal de alerta ligado, enquanto eu sinalizava para voltar para casa. Para voltar ao presente, de onde, eu sabia, não deixei em nenhum momento, mesmo ao encontrá-lo.